Chuvoso no Rio de Janeiro. Despenquei-me – não há expressão melhor para quem vem de Jacarepaguá – até o centro da cidade para pegar dois livros no escritório, como contei em um post anterior. Dois tijolões que por pouco não cabem na minha pasta. Matéria penal e processual penal; tenho me debruçado sobre o assunto em razão de uma causa na qual estou trabalhando.
Livros à parte, voltar ao centro é sempre um assombro. A última vez em que apareci por lá foi em agosto, uma audiência em vara federal que precisou ser feita presencialmente. Quase dois anos de pandemia e a sensação apocalíptica continua: ainda que as coisas em certo sentido tenham retomado o ritmo normal, ainda há muitas lojas fechadas, muitas pessoas em situação de rua e tudo o mais que mostra o desalento desta parte da cidade. Hoje ainda por cima foi Dia do Comerciário, portanto lojas e lojas fechadas aumentando a sensação de fim de mundo.
A retomada da economia no pós-pandemia será mesmo um desafio. No início do ano falamos disso no blog. As expectativas estão piorando. Inflação maior, juros altos, menor crescimento de renda e assim por diante. Nada bonito. Mas se há uma janela de esperança, é que 2022 será ano de eleições e podemos estar diante de uma renovação nos aparatos governamentais – as posses são apenas no ano seguinte, verdade, mas já é um alento. Como quer que seja, há um fenômeno do seis por meia dúzia ou, em outras palavras, de trocas superestruturais que não mexem nas bases. Perfumarias, portanto, que mesmo que relativamente importantes se esgotam em pálidos paliativos, com o perdão da aliteração.
O que aponto aqui é que o sistema econômico atual é inerentemente injusto. A pandemia piora as coisas – mas até nisso podemos perguntar, piora para quem? Não para homens como Paulo Guedes, com seus milhões escondidos em offshores. Os bancos já faturaram R$ 62 bilhões só no primeiro semestre de 2021. Enquanto isso famílias estão na fila do osso. Dezenove milhões de famintos. Não é um cenário que se resolva, repito, ainda que isso seja importante, com a troca de nomes no poder, mas apenas com a mudança do paradigma econômico: do individualismo de mercado, devemos migrar para uma alternativa, solidária, baseada em justiça social, direito humanos, democracia direta e desenvolvimento verde. É pedir muito? Como está não pode ser.
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