"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

16.10.21

Sobre tragédias, ou armas de fogo nas mãos de civis

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Leio horrorizado que pai é indiciado na Flórida após filho de 2 anos matar mãe a tiros durante chamada de Zoom. Remeto o leitor ao link para entender a dinâmica dos fatos. Em síntese: armas de fogo de acesso fácil com crianças em casa. A fórmula para a tragédia, não? Não para a malta armamentista que nos últimos tempos tem ganho os holofotes.

Admito que já simpatizei com o uso civil de armas de fogo. Isso coerentemente com minha posição de esquerda marxista – para os marxistas, o Estado é a cristalização do poder da classe dominante. A sua derrocada, imprescindível para a construção de uma nova sociedade, libertária, pressupõe que os trabalhadores possam eles próprios realizar sua defesa; e isso se faz de fuzil nos ombros. Tenho textos em outros blogs em que bato nessa tecla. 

Contudo, esse princípio, que em tese é correto, esbarra nas dificuldades da vida real. Como colocar fuzis nos ombros do homem neurotizado do capitalismo decadente? Não estamos mais falando em autodefesa da classe trabalhadora e sim em brigas de bar, de trânsito, domésticas. Um olhar feio e tome bala. Já não é mais um cenário pós-capitalista, o da emancipada sociedade comunista do futuro. Aqui já se trata de uma distopia regressiva, um faroeste, um bangue-bangue do salve-se quem puder.

Portanto, se me perguntarem, hoje sou contra o acesso civil a armas de fogo. Acho que os números falam por si. Machões fantasiam ser Charles Bronson e trocar tiros com assaltantes, sequestradores e facínoras em geral. Na vida real o buraco é mais embaixo, na vida real crianças matam porque a arma tava lá, ó, facinha à mão.

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