"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

29.5.24

Progresso e o futuro que queremos

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Quando digo que o progresso é inexorável — refiro-me ao texto anterior sobre trabalho remoto — não quero parecer um entusiasta incondicional de novas tecnologias. Como tenho escrito aqui, e sempre deixando claro que falo como um jurista e não como um cientista, o incremento das técnicas pode estar sempre acompanhado de aspectos negativos. Há que colocar na balança e, se o lado positivo não se sobressai, não é exatamente de "progresso" que estamos falando.

É muito importante falar isso quando abordamos a pauta ambiental. Se há uma coisa que parece estar clara, salvo aos olhos dos negacionistas, é que o planeta não aguenta um ritmo acelerado de desenvolvimento por mais tempo. De modo que já se diz que, mais do que alternativas de crescimento, o correto é buscar alternativas ao crescimento. Tudo tem limite. O planeta e seus recursos, igualmente. Está sendo exaurido em escala inaudita.

Penso nisso quando vejo os portentos da China. Parece-me claro que aquele modelo é insustentável. Evidentemente dizer isso quanto ao crescimento chinês dá margem para questionamentos: por que impedir que a China busque seu desenvolvimento, se as potências europeias desde as grandes navegações, passando pela Revolução Industrial, têm interferido enormemente no planeta com pouco ou nenhum óbice? Isto é, por que os europeus puderam se desenvolver à custa do planeta, mas o Dragão Chinês agora não pode? Mas essas perguntas são formas simplórias de abordar a questão. Estamos no antropoceno. A "casa comum" é única e não cabem aqui matizes geopolíticos.

O progresso tem, portanto, também um aspecto distópico. Pense no "Neuromancer" de William Gibson, ou em "Blade Runner". Que tipo de planeta queremos? A melhoria da técnica em si, se estiver expurgada de suas dimensões humanistas e ambientais, levará não à melhoria do mundo mas ao fim dele — literalmente.  

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