"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

17.5.24

Idiomas e a comunidade lusófona

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Na temática dos idiomas no país — reporto-me ao post anterior, em que sustento a obrigatoriedade do ensino das línguas indígenas — causa sempre estranhamento o fato do espanhol ser tão desprezado. Apesar de estarmos cercados de países de língua espanhola, não temos o menor apreço pelo idioma. Não há o menor sinal de iniciativas públicas nesse sentido. Lembro-me que, em toda minha carreira estudantil, só tive espanhol uma única vez, no 1º ano do 2º grau no bravo Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral em Copacabana. E ainda assim de forma precária e aulas quase esporádicas, sintoma das deficiências do ensino público nos anos 90 (que se mantêm hoje em dia, aliás tais deficiências sempre se mantiveram, diga-se de passagem).

Talvez, por outro lado, seja mais coerente — pela cultura, histórica e tradição — priorizar a comunidade lusófona. Somos afinal o maior país de língua portuguesa do mundo, com nossa população de mais de 203 milhões de pessoas. Acabamos sendo o carro-chefe do idioma no mundo, e não por acaso há muito tempo é comum vermos nossa bandeira, e não a de Portugal, como símbolo do idioma nas opções de linguagem na internet e em aplicativos. Além disso, nos voltarmos para a comunidade lusófona significa fortalecer nossos laços com a África, que como nós também teve os lusitanos em seu processo colonial.

Não sou linguista mas acho plausível falarmos, se não em um idioma "brasileiro", em um "português brasileiro". Essa qualificação se justifica pelas nossas peculiaridades e traços locais, todos nossos. Os elementos indígenas e africanos, além é claro de outras nacionalidades que aqui aportaram, dão à nossa forma de falar um jeito muito pessoal, no conteúdo e traquejo. Muitas vezes não entendemos nada que um lusitano fala. Pode-se mesmo utilizar legendas, apesar do idioma ser o mesmo. Isso não é fascinante? Línguas são vivas, e nesse ponto não é preciso ser linguista para afirmar isso.

A "última flor do Lácio" de Bilac segue nos encantando. É um idioma bonito, escrito e falado. Diferente do alemão, feio escrito e falado, assim como o espanhol; já o árabe é bonito escrito mas não falado, inglês é em ambos. Galês, que me fala à alma desde os versos dos túmulos, também é bonito escrito mas não falado. É tudo questão de gosto. "Pão, pães, é questão de opiniães", como diz Guimarães Rosa.

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