Na sessão ordinária de ontem, 29 de maio, no Instituto dos Advogados Brasileiros, fiz uma fala acerca dos episódios de racismo e intolerância religiosa que têm sido observados na tragédia do Rio Grande do Sul. É incrível, mas em pleno ano de 2024 há setores fundamentalistas que associam as enchentes à prática de religiões de matriz indígena e africana no estado.
Exmo. Sr. Dr. Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros— Intolerância e racismo religiososna tragédia do Rio Grande do SulA tragédia capitalista ambiental — porque não é possível falar em meio ambiente sem levar em conta o sistema de produção no qual estamos inseridos — que devastou o Rio Grande do Sul e segue fazendo vítimas tem revelado, além de tudo, um aspecto sinistro de setores da sociedade brasileira.Refiro-me à intolerância religiosa. Já há inúmeros episódios em que a catástrofe é associada à prática de cultos de matriz indígena e africana no estado, isso quando seus próprios praticantes não são acusados de, mediante sortilégios de qualquer tipo, terem eles mesmos causado as inundações.Dentre vários exemplos, cito o pároco do município de Nova Andradina, Mato Grosso do Sul, que disse em prédica que o Rio Grande do Sul "há muito tempo abraçou a bruxaria e o satanismo" e deplorou que o estado seja "o mais ateu da federação", e a influencer mineira que afirmou que "o estado do Rio Grande do Sul é um dos estados com maior número de terreiros de macumba" e que isso traria a "ira de Deus", ambos os casos já corretamente sob os cuidados do Ministério Público.Sr. Presidente, é incrível que já na terceira década do século XXI estejamos observando manifestações grosseiras de obscurantismo religioso dos mais atrasados. É uma mentalidade que evoca as inquisições do passado, à qual são agregados o racismo e o preconceito de classe.Acho importante que o Instituto dos Advogados Brasileiros, que tem dentre seus fins estatutários a defesa da igualdade racial, dos direitos fundamentais e da democracia, esteja sempre alerta e vigilante quanto ao tema.Encerro aqui e peço a V. Exa. a honra de ter esta pequena manifestação registrada na ata da sessão.JOYCEMAR LIMA TEJOADVOGADOOAB/ RJ Nº 116.978Rio de Janeiro, 29 de maio de 2024.
Nenhum comentário:
Postar um comentário