"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

18.5.24

De poderes hegemônicos

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Como quer que seja o inglês é nossa "língua franca", cumprindo o papel do latim no passado. Do Japão às Arábias, passando pela América do Sul, podemos nos comunicar todos em inglês. Acho inclusive irônico e mesmo vexatório que, para mim, seja mais fácil dialogar com um sul-americano em inglês do que em nosso irmão neolatino, o espanhol.

Não é assim por acaso. Sendo as potências hegemônicas — o Reino Unido desde o século XIX e os EUA a partir da segunda metade do século XX, para situarmos aproximadamente os tempos históricos — falantes de língua inglesa, evidentemente tal referência cultural se estenderia pelo globo. As ideias dominantes de uma época são as ideias das classes dominantes, como dizem Marx e Engels em "A ideologia alemã". Quem detém o poder material também deterá o poder espiritual. Tal é a abordagem materialista da História, o método materialista dialético; por meio dele, salta aos olhos que as relações de base, econômicas, materiais, isto é, concretas, condicionam (mas não "determinam", porque pensar assim já seria o chamado "materialismo vulgar", que é reducionista e embrutecedor) as diversas manifestações superestruturais (cultura, religião, artes etc.). 

Esse exemplo anglo-americano deixa isso claro. Nosso referencial cultural  — cinema, vestuário, alimentação — é essencialmente estadunidense. Os EUA são o grande poder material do mundo. É coincidência, logo, que também sejam o grande poder cultural? Claro que não. 

Adotar o método materialista dialético impede que caiamos em armadilhas. O mito do direito "neutro", por exemplo. Se as relações de base condicionam a superestrutura, o direito, parte desse arcabouço ideológico, não ficará imune a isso. Também reflete, portanto, a visão de mundo e interesses dos grupos hegemônicos. 

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