"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

1.11.21

Aprender a ser gente e modernidade tardia

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A questão da introjeção dos direitos humanos é, como dito, repressiva e afirmativa, ambos aspectos pedagógicos. Repressiva, porque as instituições devem punir a violação dos direitos humanos e afirmativa porque medidas são necessárias para fomentar tais direitos. No futuro, sabe Deus se longínquo ou não, tanto a punição quanto a afirmação poderão ser deixadas de lado, conforme, enfim, os direitos humanos estejam introjetados no sentir pessoal, conforme haja um consenso social em torno deles.

Em outras palavras. Um policial — fiquemos com esse exemplo, abstraindo o caráter de instrumento de classe da instituição — precisa saber que não pode agredir o cidadão. Não pode; é errado. Está introjetado. Isso pressupõe uma formação profissional decente, claro. Uma outra mentalidade na caserna. Mas não só, isso precisa vir da família e dos bancos escolares. Não é coisa do dia para a noite, daí a necessidade da ação conjugada, repressiva e afirmativa. 

É preciso aprender a "ser gente", digamos assim. O Brasil é um país de modernidade tardia (se é que a modernidade chegou, como os mais pessimistas podem objetar). Concepções de mais de 200 anos atrás, desde as Luzes, ainda são um luxo aqui nestas bandas. Ainda não conseguimos introjetá-las, daí a minha insistência no ponto. Achei perturbador quando li anos atrás que direito à moradia é um direito pré-humano. Nem humano é, é pré-humano. Porque todo bicho tem sua toca, seu abrigo. Mas no Brasil de capitalismo tardio isso é negado ao bicho homem, são em torno de 7 milhões de famílias sem teto no país. E, mesmo diante dessa iniquidade, um movimento como o MTST é tratado como criminoso pelas elites e seus corifeus na mídia.

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