"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

2.10.20

Um comentário sobre democracia

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Falamos das eleições ianques, falemos agora dos nossos problemas. Ontem, quinta, a Band transmitiu os primeiros debates à prefeitura nas eleições deste ano. Assisti o carioca, talvez logo mais vá atrás do paulista no Youtube. A pantomima é a mesma de sempre: frases e gestos estudados, interpretações canastronas, acusações e mentiras — deslavadas, evidentemente. Nada obstante, é preciso acompanhar "em cima". 

Churchill está longe de ser o heroi incensado pelo Ocidente, mas sua frase sobre como a democracia é a melhor dentre as piores é interessante ("Indeed it has been said that democracy is the worst form of Government except for all those other forms that have been tried from time to time", aqui). Ela é ruim mas é pior sem ela. Como parto de uma leitura crítica do institucionalismo liberal, consoante a escola marxista que professo, sei que não podemos ser ingênuos diante dos diversos interesses por trás das escolhas políticas mais comezinhas — afinal as ideias dominantes são as ideias da classe dominante, diz Marx — mas ainda assim tal democracia, limitada que seja, é o que ainda temos de melhor. O mesmo raciocínio vale para o Estado: apesar de instrumento de legitimação das classes dominantes, ainda assim o esvaziamento do Estado é deletério para a coletividade. É preciso compreender as coisas dialeticamente, ou seja, em suas contradições e antagonismos.

Não podemos nos amesquinhar à cultura do menos pior, naturalmente. Não podemos abandonar a arena do debate público aos charlatães de todas as ideologias. Ao contrário, é preciso participar. Haja estômago, é verdade. Mas há os bons nomes e, nunca é demais lembrar, a rejeição da democracia formal e a aversão às ferramentas tradicionais de representação — partidos, sindicatos — levam ao apoliticismo (lembram-se do "analfabeto político" de Brecht?) e, in extremis, ao fascismo. Nada bom.

Assistam os debates, portanto. Analisem propostas. Sobretudo há que lembrar que democracia (ainda que essa capenga do nosso capitalismo decadente) não se resume a depositar um voto na urna a cada quatro anos.

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