"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

16.10.20

Dia do professor e o sábio que nada sabia

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Dia 15 de outubro, Dia do Professor. Não deixaremos passar em branco, é claro. É uma profissão pela qual dedico profundo respeito. Fiz um tributo aos meus mestres dos tempos de escola neste texto, escrito  em 2011 para um dos meus blogs já aposentados. Reler aquelas linhas me desperta lembranças doces. Acho bonito que, décadas depois, mesmo que não saibam — e decerto muitos deles já partiram desta para melhor —, tenham deixado essa marca positiva. Isso é dar formação: participar daquilo que nos tornamos.

Mestre não é quem ensina, mas quem de repente aprende, diz Guimarães Rosa (acho que no "Grande Sertão", depois confiro). Lembro aqui uma história que meu orientador de prática jurídica contou certa vez. Havia um jurista, disse meu orientador, que era detentor de "x" títulos acadêmicos. Uma titulação realmente exemplar e invejável. Certa vez perguntaram ao jurista o que ele aprendera com tanto estudo. O jurista respondeu, "aprendi que não sei nada". Uma história com todo jeito de anedota, mas que meu orientador contara a sério. Tantos anos depois não lembro dos detalhes da narrativa nem a sua relação pessoal com o jurista personagem da história, mas o cerne me marcou — a humildade. Ok, é pouco plausível encontrar humildade entre os Excelentíssimos Professores Doutores da Academia, mas talvez seja exatamente isso que me encantou. Eu era um estudante ainda, muita água já correu desde então e com ela o romantismo dos tempos de faculdade. Mas a história, se verídica ou não, me marcou.

Esse orientador, ele próprio, me marcou muito positivamente. Estive com ele apenas por um semestre — era o orientador de prática jurídica trabalhista, logo no 6º período, sendo sucedido por outros nos semestres subsequentes — mas o suficiente para passar boas dicas e causos como esse acima. Era pastor metodista, como grande parte dos professores da instituição de ensino, metodista, em que me formei. Mas isso era apenas um detalhe. Não me lembro de proselitismo de sua parte, apenas uma vez em que, comentando os infortúnios de outro professor da faculdade, lamentava que o mesmo "não deixava a macumba". Comentário infeliz. Não direi que é emblemático, porque muitos pastores protestantes possuem vieses mais tolerantes e pluralistas, mas em todo caso na frase havia um cheiro indesejável de fundamentalismo religioso. Mas à parte esse episódio não me recordo de nada que desabonasse a cátedra desse orientador. Foi sob seus auspícios, aliás, que despachei com juiz pela primeira vez. Imaginem a emoção deste estudante.

Com essas memórias faço minha homenagem aos mestres de ontem e de hoje. Meu carinho em especial  vai para os profissionais da educação da rede pública, no front diário e sempre sob alvo dos corifeus do neoliberalismo, para os quais é de interesse o desmantelamento e sucateamento da educação pública (e da saúde etc.). O professor público é sem exagero um heroi diante desse cenário.

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