"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

25.5.20

Texto ou vídeo, o que importa é dar o recado

educação cultura leitura youtube informação tecnologia

Resolução de pós-pandemia: trabalhar também com vídeos no blog. Como sou um romântico não abandonarei jamais o formato escrito, e recuso-me a pensar que possa estar defasado. Mas é fato que há algum bom tempo o público de blogs tem migrado para o Youtube. Não tem nem comparação, vide as estatísticas astronômicas de visualizações de vídeos em relação à modesta visitação nos blogs escritos. Não chego ao ponto de "culpar" o público: o formato vídeo é realmente mais ágil, rápido e não obriga a atenção física, digamos assim. Pode-se deixar o youtuber falando enquanto lavamos louça, por exemplo. O blog é mais estático: antes de tudo o sujeito precisa estar na frente da tela. Aí começa a complicar: há textos maçantes, de vocabulário complexo, temas herméticos e por aí vai. A tendência é desistir e tocar adiante, sobretudo em um país com pouco hábito de leitura. O tema do nosso blog, Direito e em especial Direito Público, é ele próprio um filtro. Falamos também de trivialidades, como coloquei na descrição, mas segue pouco atrativo para não-iniciados.

Se é mais fácil consumir vídeos do que textos, por outro lado vídeos são mais difíceis de produzir do que textos. Por exemplo enquanto escrevo este post estou com uma camisa promocional furada, dessas de ficar em casa, da drogaria "x" (marketing só pagando), som nas alturas na cozinha e meu filho brincando em não menos decibeis na sala. Não é exatamente o set ideal para gravações. Isso não impede que eu escreva um texto minimamente inteligível. Os vídeos precisarão, ao contrário, de toda uma ambiência adequada -luz, silêncio- além de aparelhos apropriados, como câmeras e microfones. Caso se queira fazer algo com certa qualidade, naturalmente, pois qualquer smartphone registra vídeos com áudio. Isto é, além de tudo é preciso investir dinheiro, e é razoável falar em investimento se se busca o devido retorno (qualquer que seja a meta: divulgação de ideias e conhecimento, captação de clientela, monetização etc.).

Evito a abordagem pessimista que surge naturalmente destas observações, isto é, a de que a prevalência do vídeo é sintoma de decadência cultural. No caso, em especial do hábito de leitura, como dito no primeiro parágrafo. Eu objetaria a tal pessimismo da seguinte maneira: a forma "vídeo" é fenômeno intrínseco às manifestações culturais do século XXI, facilitada pelo acesso cada vez maior a internet e a aparelhos conectados; veio para ficar, portanto, e isso é bom. Além disso, não se pode falar em decadência cultural quando muito conteúdo em mídia audiovisual é de qualidade inconteste. Eu próprio sigo diversos canais de Youtube pautados por alto teor intelectual e artístico. Há de tudo na rede. Vai ao gosto do freguês. Só não pode dizer que não há opção.

Também aqui a questão da forma é menos relevante que a de conteúdo. Desde os primórdios o ser humano se expressa do jeito possível: das pinturas nas cavernas aos papiros e pergaminhos, rumo à imprensa de Gutenberg e aos terabytes de dados dos nossos dias. Estamos falando essencialmente em formas de registrar, armazenar e transmitir informação. Exatamente "como" -isto é, o veículo- é secundário (dependendo da abordagem adotada, claro). Já falamos disso no blog alguns anos atrás, acerca do acerto de se estender a imunidade tributária da alínea "d" do inciso VI do artigo 150 da Constituição Federal, que fala em "livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão", também a livros eletrônicos. Ser eletrônico ou de papel é secundário se por livro nos referimos ao veículo de informação. A tecnologia avança e a legislação tributária, no caso aqui, deve avançar também.

Dito isso, um vídeo não é inferior a um texto escrito. Cada qual com suas características, vantagens e desvantagens. O filtro é o público que faz, e aproveito a deixa para rejeitar quaisquer vícios elitistas intelectualoides: o que é bom para um é ruim para outro e vice-versa. Evidentemente há consensos (científicos e sociais) acerca da qualidade de conteúdos sobre os quais não se pode tergiversar sob risco de retrocesso civilizatório (terraplanismo e hate speech são exemplos), mas certas coisas ficam no campo da preferência pessoal -"pão, pães, é questão de opiniães", diz Guimarães Rosa- e é preciso humildade para respeitar "o outro".

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