"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

13.5.20

O tratamento da covid pede ciência, não voluntarismo

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É incrível a polêmica em torno do medicamento adequado para tratamento da covid-19. O ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta tinha ressalvas quanto à cloroquina e à hidroxicloroquina. Liberou-se o uso, mas mediante responsabilidade dos médicos e com informações claras aos pacientes acerca dos riscos. Não poderia ser diferente: faltavam testes conclusivos, mais aportes e estudos científicos. Um mês depois já sabe que "a hidroxicloroquina não é capaz de evitar mortes pela covid-19 e ainda pode causar problemas no coração" (aqui). Isso é ciência, no caso um estudo publicado pela American Medical Association. O atual ministro, Nelson Teich, também dizia há alguns que dias que a cloroquina ainda é incerteza e, hoje, tem citado outra droga, o remdesivir, mas igualmente com ressalvas- afinal "o ministério precisa ter um respaldo técnico em tudo o que ele recomenda", diz o ministro (aqui). 

Tanto Mandetta quanto Teich estão certos. E é incrível que precisemos dizer o porquê: não se prescreve medicamentos, não se "vende" medicamentos, como sendo fórmulas milagrosas sem que se tenha sólido cabedal científico atestando sua eficácia. É óbvio que para pacientes desenganados, já com o pé na cova, pode-se tentar tudo (com a anuência do próprio e da família e respeitados limites éticos, evidentemente). Mas são opções in extremis. Outra coisa, bem diferente, é fazer como o governo bolsonarista quer fazer: minimizar uma pandemia mundial (qual parte do mundial não ficou clara?, será que o ilustre Jair possui as soluções mágicas que todos os demais governantes do planeta, incluindo as maiores economias do mundo, não possuem?) grave como a covid-19 e espalhar por aí que já há o remédio para a "gripezinha".

Mas não há remédio nenhum por ora. As previsões mais otimistas falam em um a dois anos até a vacina. Já há 115 pesquisas em desenvolvimento em todo mundo. Mais uma vez, isso é ciência, e não achismo ou voluntarismo político. Por mais que as pessoas tenham pressa em retornar à vida normal e que haja uma preocupação correta e justificada quanto à economia, é preciso compreender que o fim do isolamento social no presente momento apenas agravará as coisas. Desde de, digamos, meados de março estamos passando por um sacrifício necessário. A duração de tal sacrifício seria menor se tivéssemos já no início prestado atenção aos alertas vindos da Ásia e da Europa. Mas, ao contrário, o governo federal subestimou a crise iminente e, já diante da catástrofe, Jair dá de ombros- não é coveiro, afinal. E daí?

Por sua cautela médica, Mandetta e Teich estiveram e estão na mira das milícias digitais bolsonaristas. Não tenho nenhum apreço em particular por nenhum dos dois: Mandetta é do elitista e neoliberal DEM. Participou das coletivas de imprensa vestindo colete do SUS, o que é excelente, mas antes votara a favor da "PEC dos gastos" e já defendeu o fim da universalidade de atendimento do mesmo SUS. Teich, por sua vez, é ligado ao setor da saúde privada, com toda a colisão de interesses que isso traz. Todavia, justamente por sua cautela e apego ao aspecto técnico do problema caíram em desgraça diante do mar de mediocridades que é o governo Bolsonaro- cujo forte, afinal, não é a ciência e sim o terraplanismo delirante.

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