Não basta que a mulher de César seja honesta, ela precisa parecer honesta; não é assim o velho brocardo? A dignidade da posição exige decoro social. Quanto maior o galho maior o tombo, e a quem muito é dado muito será pedido, para aproveitarmos outras falas da sabedoria popular.
Mas o que é decoro dos homens públicos no Brasil contemporâneo? Piada de mau gosto. O exemplo pior, na história recente, vem de Jair Messias Bolsonaro, é claro; o homem do "não estupra porque não merece", que utilizava apartamento funcional para "comer gente" e que, por tragédia conjuntural, foi alçado a presidente da República.
Faz parte do exigível — mas tão negligenciado, como dito — decoro público a sobriedade e discrição acerca de opiniões pessoais. É evidente que enquanto pessoa o homem público, seja detentor de cargo eletivo, magistrado ou o que for, tem opiniões e idiossincrasias pessoais. É humano, demasiado humano. Contudo, isso deve ficar guardado a sete chaves. O menor indício de inclinação pessoal pode lançar suspeitas sobre a lisura do desempenho funcional. E isso é muito grave do ponto de vista republicano.
Nesse sentido, eis o papelão do ministro do TCU, Augusto Nardes, flagrado em áudio fazendo pregação golpista. Um homem público conspirando contra a democracia e contra a república! Coisas do Brasil de modernidade tardia. A questão do decoro: que seja reacionário à vontade. Mas na sua. É questão de foro íntimo. Só não pode verbalizar isso. E nem a desculpa de que foi uma fala rápida e despretensiosa para um grupo restrito muda alguma coisa. Altamente reprováveis, forma e conteúdo.
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