E começa hoje a Copa do Mundo no Qatar. Não há ser vivo que fique indiferente ao evento, até mesmo quem não nutre nenhuma predileção em especial pelo futebol no seu cotidiano. Acontece só de quatro em quatro anos, afinal, e movimenta literalmente todo o planeta; não há problema político ou econômico que nos faça imunes ao drama no tapete verde, uma vez tocado o apito inicial.
Costumo dizer que não se trata apenas de um "jogo", no sentido de mera atividade lúdica. Em verdade o futebol envolve uma gama de fatores — sociais, psicológicos, econômicos. A Constituição brasileira, em sintonia com isso, coloca o desporto ao lado da educação e da cultura, sendo o seu fomento verdadeiro dever do Estado, como diz seu art. 217.
Uma observação sobre o país-sede, o Catar. É uma das monarquias absolutistas do Golfo Pérsico. Política e religiosamente são wahhabistas, a variante linha dura do Islam. Isto é, determinada interpretação do Islam — é oportuno dizer isso para que não se atribua muitas das críticas ao regime de Catar, como a questão das mulheres, da população LGBT, exploração do trabalho imigrante etc. ao Islam. Em verdade, são interpretações e costumes locais, políticos e históricos, que não se confundem com a religião em si. Neste post disponibilizei um texto que escrevi sobre a lei islâmica, e remeto os interessados para lá.
O Islam tem essa pecha de ser um ambiente de fundamentalismo e integrismo. Todavia nenhuma religião, ou mesmo nenhum conjunto de dogmas ou prescrições, está a salvo disso. As "vozes autorizadas" e detentores de "saberes exclusivos" pululam por aí, tornando burocratizado um movimento que deveria ser libertário e emancipador — o próprio diálogo personalíssimo com o sagrado.
Sigamos a crítica. E assistindo a Copa que ninguém é de ferro.
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