Dois extremos: excluir a razão, só admitir a razão, diz Pascal em seus "Pensamentos". Um apelo ao equilíbrio. Isso se aplica ao sentimento que devemos ter quanto à mudança na presidência estadunidense. O grosseirão Trump sai de cena, Trump cuja base de apoio é o supremacismo branco, a KKK, confederados escravagistas — a fina flor do reacionarismo. Todos viram o sujeito com camisa de Auschwitz dentre os apoiadores de Trump que invadiram o Capitólio no início de janeiro. Nazismo, em suma. Dizer que setores da classe trabalhadora votaram em Trump por desilusão com o sistema não faz diferença nenhuma: Hitler também tinha apoiadores nos estratos populares e nem por isso abonamos Hitler.
Sai de cena Trump, enfim, e em seu lugar vem Joe Biden, de fala mansa, denunciando o racismo estrutural, defendendo a ciência — em oposição ao negacionismo terraplanista de Trump diante da pandemia —, falando em união e governo para todos — novamente, contra o belicista discurso trumpista do "nós contra eles" — e com uma poderosa agenda ambiental. Promete tempos muitos melhores para a comunidade LGBT. Sua vice é Kamala Harris, mulher negra e filha de imigrantes. Diferença brutal com o trumpismo. Gritante. Assim como todo o resto do mundo, com exceção dos bolsões populistas de extrema-direita, fiquei feliz com a vitória de Biden.
Contudo, e aqui vamos à lucidez que a fala de Pascal nos evoca, essencialmente a troca de Trump por Biden fica no terreno do seis por meia dúzia. A primeira coisa que deve ser dita é que os dois partidos, Republicanos e Democratas, são engrenagens do mesmo establishment. Como vimos há nuances, claro, mas ambos são braços do imperialismo capitalista que marca a história dos EUA. De modo que não há solução de continuidade nas práticas e políticas que temos observado, e como cidadãos da América Latina sentido na pele, na história contemporânea.
Vejam Trump, que até começou com um discurso não-intervencionista. Quase entrou em guerra com o Irã no início de 2020, matou Soleimani, esteve às raias de atacar a Venezuela e assim por diante. Sem falar na ameaça de hecatombe nuclear que pairava no ar graças às suas bravatas contra a Coreia do Norte. Com Biden não deve ser muito diferente. Teremos a mesma política imperialista, com um verniz, digamos, progressista.
Busquemos um caminho do meio, que tal? Entusiasmo com Biden pero no mucho. Trump saiu e isso em si já foi ótimo. Falta que se vá seu fanboy número 1, Jair Bolsonaro. 2022 tá aí.
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