"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

15.7.24

Democracia e escolhas ruins

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É evidente que, se pessoas pouco afeitas aos bons modos e ao jogo democrático estão no parlamento, é porque foram eleitas. Não caíram do céu; representam as frações do eleitorado que lhes granjearam votos. E pode-se dizer que muitas vezes foram eleitas exatamente pelas características conhecidas.

Ou seja, um parlamento de má qualidade é produto direto da má qualidade das escolhas do eleitorado. Acho que é importante apontar isso, ainda que pareça antipático. Penso que não podemos "passar pano" em certos padrões de comportamento. Passamos por duas décadas de ditadura empresarial-militar. Temos desde então, após muita luta e sangue, a faculdade de escolher nossos próprios representantes; temos noção da importância disso? Porque um povo que vota em cacarecos, tiriricas e bolsonaros "por protesto" parece não compreender a correta dimensão de suas responsabilidades.

Podemos falar em alienação, no sentido marxiano. O alheamento, o sentir-se à parte. O povo não se identifica com a classe política; votará portanto — já que o voto é obrigatório, outro grande erro — em qualquer coisa que pareça disruptivo. Não é a agenda política que terá importância, a pauta, o programa, o projeto; e sim a capacidade do choque pelo choque.

"Pior que tá não fica!", eis o bordão do triste palhaço eleito com mais de um milhão de votos em 2010. Como é possível discutir seriamente a política no país debaixo desses termos? Que tipo de produção legislativa é esperada? É uma platitude, mas política é coisa séria. Todos os aspectos da nossa vida passam por ela — poder de compra, saúde, segurança, educação e tudo o mais. É a lição que Brecht dá ao analfabeto político: não faz sentido ter orgulho em desprezar a política se nossa vida depende dela.

É difícil romper esse círculo vicioso. A migração do debate político para os grupos de WhatsApp onde pululam as "mamadeiras de piroca" acrescenta mais camadas de dificuldades, na medida, é claro, que se possa chamar isso de debate. Novos problemas se somam aos de sempre e a democracia, coitada, segue em sua sofrida resiliência.

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