É assombroso ver a onda negacionista que assola o país desde que o bolsonarismo chegou ao poder em 2018. Negam tudo: que haja desmatamento, que vacinas funcionem, que a Terra seja redonda e assim por diante. É toda uma narrativa sui generis, ao gosto da ideologia. Não adianta falar em evidências e fatos concretos. Números, pra quê? Em vão. O minion está convencido de algo e ponto final. É essa a pós-verdade? A realidade refém de sentires pessoais. Solipsismo.
Agora é o racismo. Séculos de subjugação violenta do negro e, não, dizem os "jênios", não há racismo no país. Bolsonaro e seu truculento vice, Mourão, verbalizaram esse disparate. Em que realidade paralela esses senhores vivem? Talvez psiquiatras possam explicar melhor tais fenômenos de dissociação da realidade. Coisa de doido, em bom português. Haja chazinho batizado. O país em que brancos ganham 74% a mais que negros não é racista? Como assim? Séculos, repito. À base de chicotada e das condições mais desumanas e aviltantes. Isso acabou formalmente há pouco tempo, em termos históricos. Acabou? Decerto que não.
Do episódio do Carrefour muito já foi falado. Apenas imbecis achariam plausível que um distinto senhor branco e bem-apessoado pudesse ser espancado até a morte pelos seguranças de um supermercado, por mais inadequado que fosse seu comportamento. Dizem que a vítima, Beto Freitas, estaria "encarando" os funcionários. E isso por acaso é algum excludente de ilicitude? Maus modos, se for o caso, é licença para matar? Aliás, a boçalidade, a arrogância e a agressividade com supostos subalternos são traços característicos das elites deste Brasil. Mas tais burgueses são espancados até a morte por isso? Também aqui, decerto que não. Com pretos e pobres a coisa muda de figura.
Outra coisa a se dizer. Talvez seja equivocado falar que os homens que fazem a segurança privada por aí são "despreparados". Diante do acúmulo de casos e do fato de estarmos diante de esquemas profissionais — afinal, são empresas regulares em contrato com grandes redes —, salta aos olhos que esse é o padrão. É o modus operandi de praxe. O mesmo se aplica às vítimas inocentes das incursões policiais. A estrutura é muito grande para dizer que é dano colateral ou coisa do destino. Em ambos os casos, segurança privada ou pública, o suspeito principal é o preto e o pobre. E vêm os mentecaptos dizer que não existe racismo no Brasil.
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