O Twitter — ou X, caso já tenham se adaptado ao já nem tão novo nome — voltou e provavelmente já houve debandada do Bluesky. A borboletinha azul quebrara um galho, digamos assim, mas estávamos mesmo acostumados com a velha plataforma. Transições costumam ser lentas: sair do Orkut para o Facebook demandou seu tempo. No caso da adesão ao Bluesky sequer houve o elemento da voluntariedade; a correta decisão de suspender as atividades elonmuskianas no Brasil, por desobedecer a legislação brasileira, não deixou escolhas para os entusiastas do formato da plataforma. O Bluesky (ou o menos popular Mastodon) era o que restava, além, claro, do Threads do indefectível Mark Zuckerberg.
Decisão correta a de Alexandre de Moraes. De forma recalcitrante, a plataforma de Elon Musk desrespeitava nossa legislação e nosso Poder Judiciário. Até guerra memética foi utilizada pelo próprio Musk em seu perfil contra Alexandre. Eu penso que a iconoclastia tem seu papel emancipador e progressista, e também que nenhuma instituição deve estar livre de críticas e de resistência, se necessário; contudo, o bilionário Musk, um dos grandes quadros da extrema direita internacional, está longe de ser um pobrezinho perseguido pelo Judiciário. Musk agia (e provavelmente continuará) agindo de forma disruptiva. Sua plataforma se tornou uma espécie de trincheira de direitistas, trumpistas e terraplanistas em geral. Ok, se dentro dos marcos do respeito à lei e às instituições; não era o caso, daí a correta suspensão de suas atividades até a readequação à lei.
Esses episódios trouxeram à baila o tema da "fulanização" das decisões do tribunal. Quando um ministro, no caso Moraes, realiza uma decisão monocrática, não o faz de forma voluntarista — ainda que contingencialmente tome decisões sozinho, o ministro integra um órgão colegiado. Teratologias e absurdos cedo ou tarde são derrotados. Há um ônus, uma responsabilidade da qual o ministro não pode se eximir.
A "fulanização" das decisões judiciais, contudo, principalmente quando envolve nomes do STF, tem sido constante no noticiário brasileiro nos últimos anos. Magistrados caem na boca do povo e se tornam pop stars. Creio que a AP 470, o "Mensalão", relatada por Joaquim Barbosa, é um marco na história recente. Quem não se lembra de Barbosa estampando as capas de revistas pelo país como sendo o "menino pobre que vai mudar o Brasil"? Havia uma instrumentalização política evidente: era preciso alçar ao Olimpo o ministro que seria responsável pela destruição da PT. Os herois seguintes foram Sergio Moro et caterva, com seu lavajatismo que aviltou o Poder Judiciário brasileiro.
Não estou comparando Alexandre de Moraes, um sujeito sóbrio e discreto — mas contra o qual em outros momentos também tive minhas críticas — com Barbosa ou com Moro. Mas sim aponto que a tendência de projetar holofotes sobre magistrados tem sido rotineira. Um fenômeno indissociável do ativismo judicial, o protagonismo desnecessário (e por isso perigoso) dos juízes na pauta política, e que tem marcado nossos tempos.
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