"O direito é criado pelo homem, é um produto tipicamente humano, um artifício sem entidade corporal, mas nem por isso menos real que as máquinas e os edifícios." - Gregorio Robles

29.9.20

Da saída de Celso de Mello


Não comentei sobre a saída de Celso de Mello do "Pretório Excelso" — ah, essa pompa toda —, antecipando em três semanas sua aposentadoria em outubro. Penso que não convém adentrar juízos pessoais diante de motivos objetivos, afinal o ministro já vinha de licenças médicas ao longo do ano e já estava, quase aos 75 anos, às portas da "expulsória". Três décadas de Supremo são exaurientes, decerto. Mas não podemos deixar de sentir o pesar diante da saída de um dos mais sóbrios e elegantes ministros (ao lado de Lewandowski, a quem prestei tributo aqui), o decano, que não vacilou diante da truculência bolsonarista. 

Contra Celso pesa, em minha opinião, o recado ameaçador a Lula e a um PT nas cordas em 2016. Não pela fala em si, nada mais que a defesa corporativista da corte a qual integra, mas pelo contexto e pelo momento. É fácil falar grosso com quem já está pelas tabelas. Se enfrentar Bolsonaro no poder é galhardia, bater em um Lula já acossado pelo lavajatismo teve cores de linchamento. 

O próximo ministro tomará cerveja com Bolsonaro, já sabemos. O outro requisito é ser terrivelmente evangélico. Com todo respeito aos evangélicos, o país é laico e exige-se apenas notório saber jurídico e reputação ilibada, além da idade mínima. Para a já proverbial falta de decoro bolsonarista isso não importa. Temos então a "Suprema Corte" — cadê a pompa quando precisamos dela? — reduzida a uma pelada de várzea, a um papo de bar. 

De onde menos se espera, daí é que não sai nada, dizia o Barão de Itararé. Ainda que este país nos traga sempre surpresas, ainda mais neste outsider 2020, é certo como dois mais dois são quatro que Celso de Mello fará falta.

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