Marcelo Crivella preso preventivamente sob acusações gravíssimas de corrupção. O STJ já converteu em domiciliar. Eis a política fluminense, senhores. O governador Wilson Witzel já está afastado, sob processo de impeachment, e mui possivelmente amargará cana também — assim como antes dele Pezão, Cabral etc. Que "homens públicos" nós temos. Não é de estranhar o desencanto, sobretudo entre os jovens, com a política.
Bem, que o devido processo legal suja cumprido, conforme os princípios civilizatórios do Estado Social e Democrático de Direito. Não antecipemos condenações. Apesar de Crivella, ele próprio, dar pouco valor a isso. Durante o último debate eleitoral à prefeitura Crivella repetia ad nauseam que seu adversário, Eduardo Paes, seria preso a qualquer momento. Mas quem acabou preso foi ele, Crivella. Dupla derrota: Paes foi eleito e Crivella, para o bem dos cariocas, defenestrado do cargo. Não que não pairem dúvidas sobre a idoneidade de Paes, também sob persecução judicial — mas quem tem telhado de vidro deve ser muito cuidadoso antes de apontar o dedo para outrem. Senão fica feio.
Duas observações. Primeiro o desencanto com a política. Acaba por ser compreensível, como dito, diante do festival de atrocidades que a classe política nos oferta. Mas abrir mão do espaço é ainda pior. Pois, ao contrário, o que precisamos é exatamente de maior engajamento e participação no debate público, visando o aperfeiçoamento das instituições. Ainda que a democracia tal como a vivenciamos seja limitada — consequência inevitável da excludente sociedade de classes capitalista — ainda assim é uma conquista civilizatória que deve ser protegida e melhorada. Deixar de lado a política é permitir que os picaretas e bandidos de todo naipe se apossem do espaço. Ainda mais.
Outra coisa. Crivella é bispo da poderosíssima Igreja Universal do Reino de Deus. Olha só. A bíblia possui muitas advertências e admoestações contra "sepulcros caiados" e "vendilhões do templo". Religiosos não deveriam ter projetos de poder. E muito menos projetos empresariais. Isso viola frontalmente o espírito religioso, ou não? Falei disso no painel "Os paradoxos entre fundamentalismo religioso x laicidade no Estado Democrático de Direito" no webinário "Temas de Direito Constitucional e Defesa do Estado Democrático", que pode ser assistido na íntegra aqui.
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